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Brasil sobe no ranking do IDH, mas desafios estruturais persistem

Publicado em: 06/05/2025

Brasil sobe no ranking do IDH, mas desafios estruturais persistem
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Brasil sobe no ranking do IDH, mas desafios estruturais persistem


O Brasil ocupa atualmente a 84ª colocação no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), com pontuação de 0,786, em uma escala que vai de 0 a 1. Embora esse número represente um patamar considerado de alto desenvolvimento humano, o avanço esconde desafios estruturais que seguem comprometendo o progresso sustentável do país. Os dados, divulgados nesta terça-feira (6) pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), atualizam os indicadores de 193 países com base em informações de 2023.


Evolução tímida e desigual


Comparado ao ranking anterior, o Brasil subiu cinco posições – de 89ª para 84ª –, com crescimento de 0,77% em relação ao IDH ajustado de 2022, que era de 0,780. No entanto, ao considerar o ajuste realizado neste ano, o país estava na 86ª posição anteriormente, o que representa um avanço real de apenas duas posições no ranking global, ultrapassando a Moldávia e empatando com Palau.


O relatório também analisa a trajetória do IDH brasileiro em longo prazo. Entre 2010 e 2023, o crescimento médio anual foi de apenas 0,38%, e de 1990 a 2023, foi de 0,62%. Esses dados revelam um progresso constante, porém lento, especialmente se comparado ao ritmo de outros países em desenvolvimento.


Contexto regional


Na América Latina e Caribe, o Chile lidera com um IDH de 0,878, ocupando a 45ª colocação global. Além do Chile, nove países da região estão no grupo de desenvolvimento muito alto, incluindo Argentina, Uruguai, Antígua e Barbuda, São Cristóvão e Névis, Panamá, Costa Rica, Bahamas, Barbados e Trinidad e Tobago. A média regional passou de 0,778 em 2022 para 0,783 em 2023, representando um avanço de 0,64%.


O Brasil integra o grupo de 50 países com IDH considerado alto, com pontuação entre 0,700 e 0,799. Outras 43 nações apresentam desenvolvimento médio (0,550 a 0,699), enquanto 26 ainda figuram no grupo de desenvolvimento baixo (abaixo de 0,550).


Panorama global


A Islândia assumiu a liderança global do IDH, com índice de 0,972, superando Suíça e Noruega. As seis primeiras colocações são dominadas por países europeus – Dinamarca, Alemanha e Suécia também figuram no topo. Na outra ponta, o Sudão do Sul, o país mais jovem do mundo, ocupa a última posição com um preocupante 0,388. Nove das dez últimas posições são de países africanos, e o Iêmen, devastado por anos de guerra civil, aparece com o décimo pior desempenho.


O IDH médio mundial subiu para 0,756 em 2023 – um avanço de apenas 0,53% em relação ao ano anterior. Apesar do número representar o maior nível já registrado, especialistas alertam para uma desaceleração perigosa.


Segundo Pedro Conceição, coordenador do relatório, o mundo vive atualmente o ritmo de crescimento mais lento da história recente, excluindo o impacto direto da pandemia. Se o ritmo pré-2020 tivesse sido mantido, o planeta alcançaria um nível de desenvolvimento muito alto até 2030. No entanto, a realidade indica que essa meta poderá ser adiada por décadas.


Desigualdade ameaça avanços


Um dos pontos mais críticos revelados pelo relatório é a estagnação de países com IDH baixo, que há quatro anos consecutivos não conseguem acompanhar o progresso global. Essa ruptura inverte uma tendência de décadas de convergência entre nações, aprofundando desigualdades históricas.


A média dos países de IDH muito alto é de 0,914, enquanto as nações de IDH baixo têm uma média preocupante de 0,515. O abismo social e econômico entre esses grupos escancara os desafios que o sistema global ainda precisa enfrentar.


Desigualdade interna e impacto ambiental


O Brasil é particularmente afetado quando o IDH é ajustado para refletir desigualdades internas. Nesse cenário, sua pontuação despenca para 0,594, o que rebaixa o país para a 105ª posição e para a categoria de desenvolvimento médio. Em contraste, a Islândia apresenta uma diferença mínima quando ajustado, caindo de 0,972 para 0,923.


A desigualdade entre gêneros também é abordada. No Brasil, o IDH das mulheres (0,785) é ligeiramente superior ao dos homens (0,783), impulsionado pela maior expectativa de vida e escolaridade feminina, apesar da desvantagem no PIB per capita.


Já no recorte ambiental, o IDH brasileiro ajustado pela pegada de carbono fica em 0,702, o que melhora sua colocação para a 77ª posição, revelando um desempenho relativamente positivo no equilíbrio entre desenvolvimento e impacto ambiental.


O papel da inteligência artificial


O tema central do relatório deste ano é a inteligência artificial (IA). Para o administrador do Pnud, Achim Steiner, a IA deve ser uma aliada do progresso humano e não uma força descontrolada. Ele defende uma cooperação internacional robusta para garantir que países em desenvolvimento também possam se beneficiar dessa nova economia emergente.


Steiner ressalta que a IA precisa ser uma ferramenta para ampliar a engenhosidade, diversidade, imaginação e empreendedorismo humanos. E, acima de tudo, um instrumento que inspire confiança de que o século XXI pode ser marcado pelo desenvolvimento coletivo, mesmo diante dos riscos e incertezas que se impõem sobre o futuro global.


Reflexão necessária


O avanço do Brasil no ranking do IDH é, sem dúvida, um sinal positivo. No entanto, a velocidade lenta desse progresso, o impacto brutal da desigualdade e o risco de estagnação exigem atenção urgente. Sem políticas públicas mais eficazes e um compromisso firme com a equidade, os próximos anos podem significar não um salto adiante, mas um perigoso retrocesso disfarçado de estabilidade.

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