Publicado em: 22/05/2025
Fila do INSS bate recorde de 2,7 milhões e ameaça pressionar ainda mais os cofres públicos
A fila de espera por benefícios do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) atingiu níveis alarmantes no início de 2025, batendo recordes históricos e acendendo um alerta sobre o impacto crescente nas contas públicas.
Crescimento da fila e composição dos pedidos
Em abril, havia 2,678 milhões de requerimentos pendentes para pagamento de aposentadorias, pensões, licença-maternidade, benefícios por incapacidade e assistenciais. O número representa um salto de 91% em relação ao mesmo mês de 2024, quando o estoque era de 1,4 milhão. O recorde absoluto foi registrado em março deste ano, com 2,707 milhões de pedidos acumulados.
Os benefícios por incapacidade representam a maior fatia da fila (48%), seguidos pelos assistenciais (24%) e aposentadorias (17%). O cenário reflete não apenas o aumento da demanda, mas também falhas estruturais na capacidade de resposta do sistema.
Custo bilionário e risco fiscal
A consultoria XP Investimentos estima um impacto imediato de R$ 6 bilhões apenas com o pagamento retroativo para cerca de 1,3 milhão de requerimentos. Em um horizonte de 12 meses, o custo pode ultrapassar R$ 27 bilhões. Considerando que nem todos os pedidos são aprovados, a projeção mais realista é de um impacto de R$ 14 bilhões por ano — ainda assim, uma cifra expressiva que pressiona diretamente o orçamento federal.
A Instituição Fiscal Independente (IFI), vinculada ao Senado, estima que as despesas previdenciárias devem ultrapassar em R$ 16 bilhões a previsão oficial de R$ 1,015 trilhão para 2025, considerando o ritmo atual de concessões de benefícios.
Causas: greves, sistema sobrecarregado e mudanças de estratégia
Parte do aumento da fila pode ser atribuída à greve dos médicos peritos, que ocorreu entre agosto de 2024 e abril de 2025. A paralisação afetou diretamente a capacidade de análise dos pedidos. Em abril, porém, houve um alento: foram analisados 1,072 milhão de requerimentos, superando as novas solicitações (1,062 milhão) e gerando leve redução da fila.
O ex-presidente do INSS e ex-ministro do Planejamento, Valdir Moysés Simão, aponta também mudanças na estratégia do instituto como um fator relevante. O uso do sistema Atestmed, que permite a concessão de auxílio-doença sem perícia presencial, facilitou o acesso ao benefício. No entanto, o aumento expressivo nas concessões levou o INSS a retomar a exigência do exame médico em muitos casos.
“Conceder benefícios sem avaliar criteriosamente a condição do segurado gerou distorções, e a tentativa de revisão agora resulta nessa fila gigantesca de afastamentos por doença”, afirma Simão. Ele alerta ainda para o prejuízo bilionário causado pela demora nas análises: se o segurado tem o direito reconhecido após mais de 60 dias, o INSS paga pelo período retroativo, mesmo que o trabalhador já tenha se recuperado.
Déficit de pessoal e falhas tecnológicas
Carlos Vinicius Lopes, dirigente do Sindisprev-Rio, reforça que a falta de servidores é o principal gargalo, agravado por problemas de infraestrutura. “Os sistemas da Dataprev estão sobrecarregados e não dão conta da demanda”, afirma.
Além da greve dos peritos, houve uma paralisação dos servidores administrativos que durou cerca de 80 dias em 2024, com adesão de 20% da categoria. Já a greve dos peritos, embora parcial, durou mais de 230 dias, reduzindo drasticamente o número de perícias realizadas — e afetando diretamente o volume de pedidos represados.
Medidas emergenciais: bônus para destravar a fila
Como resposta, o INSS publicou nesta semana uma portaria que prevê o pagamento de bônus para servidores que atuarem no destravamento da fila de benefícios. O valor pode chegar a R$ 17,1 mil por servidor, com pagamento de R$ 68 por tarefa extra, incluindo revisão de aposentadorias, pensões e Benefício de Prestação Continuada (BPC).
O pagamento, no entanto, depende do cumprimento da meta de trabalho mensal de cada servidor. Só depois disso, é possível receber o valor adicional. Quem não atinge a meta estipulada pelo INSS não recebe o bônus, o que pode limitar o alcance da medida.
Um desafio urgente e estrutural
O volume recorde de requerimentos no INSS não é apenas um problema de fila: é um sintoma de uma crise estrutural no sistema previdenciário brasileiro. Além do impacto direto nos cofres públicos, o atraso na concessão de benefícios compromete a subsistência de milhões de brasileiros em situação de vulnerabilidade. Resolver essa questão exige mais do que medidas emergenciais — é necessário investimento estrutural, modernização tecnológica e reforço na equipe de atendimento. O tempo está correndo, e o custo da demora já se conta em bilhões.