Invasores Inusitados: Besouros Transformam Cupinzeiros em Abrigos para Animais do Cerrado - Pagenews

Invasores Inusitados: Besouros Transformam Cupinzeiros em Abrigos para Animais do Cerrado

Publicado em: 06/04/2025

Invasores Inusitados: Besouros Transformam Cupinzeiros em Abrigos para Animais do Cerrado
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Invasores Inusitados: Besouros Transformam Cupinzeiros em Abrigos para Animais do Cerrado

Nos últimos anos, um grupo de pesquisadores que estuda serpentes e lagartos no cerrado brasileiro fez uma descoberta surpreendente: muitos desses répteis estão se abrigando em cupinzeiros, mas não em qualquer tipo de estrutura. Esses cupinzeiros foram invadidos e modificados por larvas de besouros do gênero Actinobolus, que se aproveitam do ambiente para se alimentar e se transformar em adultos.

Esses besouros criam túneis enormes dentro dos cupinzeiros, permitindo que não apenas répteis, mas também pequenos mamíferos e aves encontrem abrigo. O pesquisador Reuber Brandão, da Universidade de Brasília (UnB), explica: “Mesmo sem as larvas, muitos animais menores já utilizam esses espaços. Mas, quando as larvas consomem o ninho, animais maiores conseguem entrar e se proteger.”

A descoberta ocorreu na Reserva Natural Serra do Tombador, em Cavalcante (GO), uma área preservada pela Fundação Boticário. Os cientistas perceberam que esses cupinzeiros modificados oferecem proteção contra incêndios e períodos de seca, mantendo a umidade e a temperatura adequadas, mesmo em condições extremas.

Entretanto, essa interação ecológica tem um lado negativo: os cupins, que são os verdadeiros moradores dos cupinzeiros, acabam sendo prejudicados. “As larvas de besouro evoluíram para acessar e consumir os ninhos, o que resulta na destruição das colônias de cupins”, afirma Brandão.

Atualmente, as invasões de cupinzeiros por Actinobolus são raras, ocorrendo em apenas 2% dos 179 cupinzeiros estudados. Contudo, os pesquisadores estão preocupados com o futuro dessa relação, especialmente diante das mudanças climáticas. “Sem a manutenção dos cupinzeiros pelos cupins, eles se deterioram com o tempo. A diminuição das chuvas e o aumento das temperaturas podem favorecer ou prejudicar os besouros”, destaca Brandão.

A incerteza sobre como as queimadas e o clima mais quente afetarão essa dinâmica é alarmante. Se os besouros se beneficiarem, poderão criar mais abrigos temporários para animais maiores durante as queimadas. No entanto, a longo prazo, a escassez de cupins pode resultar em menos abrigos e menos nutrientes para espécies que dependem deles, como os tamanduás.

“Os cupins são a maior biomassa animal do cerrado e servem de base alimentar para muitos outros animais”, explica Brandão. Diante disso, os pesquisadores continuarão a monitorar o comportamento dos besouros e os impactos das mudanças climáticas nas relações ecológicas do cerrado. “Estamos muito preocupados com o futuro dos cupinzeiros e como as atividades humanas e as mudanças climáticas estão afetando o equilíbrio ecológico”, conclui Brandão.

Essa pesquisa destaca a complexidade das interações na natureza e a importância de proteger esses ecossistemas frágeis diante das ameaças que enfrentam.

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