Publicado em: 02/11/2025
Fortaleza, Ceará- Enquanto o Rio de Janeiro vivia o auge da megaoperação policial, com mais de 120 mortos e a apreensão recorde de 93 fuzis, o mercado financeiro brasileiro sinalizava um otimismo incomum. No mesmo período, a Bolsa de Valores (B3) celebrava seu 19º recorde nominal em 2025, alcançando a marca de 149,5 mil pontos.
A pergunta que ecoa nas mesas de operações é: a violência extrema no maior centro urbano do país afeta a confiança dos investidores ou o Brasil está surfando em uma onda de fatores macroeconômicos mais fortes?
O principal índice da Bolsa brasileira, o Ibovespa, tem apresentado uma performance notável em 2025. A recente escalada, que levou o índice a sucessivas máximas históricas, é reflexo de uma combinação de fatores, em sua maioria, externos e sistêmicos, que parecem blindar a economia da volatilidade da segurança pública local:
Juros em Queda e PIB em Ascensão: A expectativa de queda na taxa Selic no médio prazo e o cenário de inflação controlada impulsionam o investimento. Agências internacionais, como a Moody's e o FMI, e o próprio Banco Mundial, revisaram para cima as projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2025, estimando um avanço entre 2,4% e 2,5%, um número que supera a média da América Latina.
Fluxo Estrangeiro: A entrada de capital estrangeiro, atraído pelo diferencial de juros e pela desvalorização do dólar frente ao real (cotado a cerca de R$ 5,38), tem sido o motor para a B3.
Setores diretamente ligados ao crédito e à atividade interna, como Construção Civil e Varejo, estão entre os que mais valorizam, antecipando-se a um ciclo econômico mais favorável.
Apesar do otimismo geral do mercado, especialistas alertam que a crise de segurança no Rio de Janeiro impõe um "Custo Brasil" que é historicamente subestimado pelos balanços de curto prazo.
A megaoperação, embora popular entre a maioria dos cariocas (pesquisas Datafolha e AtlasIntel apontam aprovação entre 57% e 80% dos moradores), gera impactos diretos na economia fluminense que afetam a performance nacional:
Transporte e Logística: A paralisação de vias, a suspensão de serviços de ônibus e a interrupção de entregas em áreas conflagradas geram prejuízos diários e elevam os custos de seguros e fretes, impactando a cadeia produtiva.
Risco para Investimentos a Longo Prazo: O alto grau de violência e a instabilidade institucional no combate ao crime inibem a atração de investimentos diretos para o estado, especialmente em infraestrutura e indústrias que exigem grande segurança operacional.
Turismo: A imagem internacional de violência, potencializada por operações de grande letalidade, pode afetar o fluxo de turistas, um setor vital para o Rio.
Em resumo, o mercado financeiro, focado em resultados macro, parece ignorar a tragédia social e de segurança do Rio, tratando-a como um ruído isolado. Contudo, analistas de longo prazo veem no fracasso crônico da segurança pública um risco fiscal e operacional que, se não endereçado pelo Congresso e pelo STF (como visto na matéria anterior), pode comprometer a sustentabilidade do crescimento otimista do PIB projetado para 2025.