Publicado em: 23/03/2025
Cearense Matheus Lima quebra recordes históricos, mas fica em 6º no Mundial Indoor: um retrato dos desafios do atletismo brasileiro
Feito histórico nas eliminatórias contrasta com a complexidade de competir no topo mundial, expondo lacunas no apoio aos talentos nacionais.
Aos 21 anos, o cearense Matheus Lima entrou para a história do atletismo brasileiro ao bater os recordes nacional e sul-americano dos 400 metros indoor (45.77s) nas eliminatórias do Campeonato Mundial da categoria, em Nanjing (China), na sexta-feira (22). No entanto, na final disputada no sábado (23), Lima terminou em 6º lugar (46.12s), revelando os desafios de sustentar picos de performance em um cenário global hipercompetitivo.
Feito inédito: Pela primeira vez, um brasileiro chegou à final dos 400m em Mundiais Indoor, categoria dominada por EUA, Bélgica e Holanda.
Projeção olímpica: O tempo das eliminatórias (45.77s) superou o recorde olímpico de Sydney McLaughlin (45.94s em Tóquio-2020 outdoor), embora em condições distintas.
Apesar do marco, a queda de rendimento na final (0.35s mais lento) reflete realidades críticas:
Preparação desigual: Enquanto rivais como o holandês Liemarvin Bonevacia (4º lugar) têm acesso a centros de alto rendimento com tecnologia de ponta, atletas brasileiros dependem de programas esporádicos. Em 2023, o orçamento da CBAt foi de R$ 18 milhões — 23 vezes menor que o da Federação Francesa.
Sobrecarga física e mental: Lima competiu em 7 provas em 10 dias (incluindo etapas no Brasil), contra a média de 3 a 4 dos finalistas europeus.
Brasil no atletismo indoor: A última medalha em Mundiais foi em 2012 (Fabiana Murer, bronze no salto com vara).
Ceará no mapa: Lima é o primeiro atleta do estado a chegar a uma final mundial desde João do Pulo (década de 1970).
A 294 dias das Olimpíadas de Los Angeles-2028, especialistas veem potencial, mas alertam:
É urgente ampliar patrocínios: Apenas 12% dos atletas brasileiros de elite têm contratos estáveis (COB, 2024).
Fortalecer base técnica: O Ceará, por exemplo, tem apenas 2 pistas indoor oficiais, insuficientes para a demanda.
Matheus Lima, hoje uma das maiores promessas do esporte nacional, simboliza tanto a capacidade de superação quanto a urgência de um sistema esportivo mais robusto. Seu sexto lugar não é um fracasso: é um alerta. E, como ele mesmo declarou após a prova, "recordes são sementes. Agora, precisamos regá-las".