Publicado em: 30/03/2025
Globo vs. Amazon: a batalha pelos direitos de Marília Mendonça e o luto interrompido
A TV Globo enfrenta um bloqueio sem precedentes para homenagear Marília Mendonça, morta em 2021. Um contrato de exclusividade com a Amazon, firmado em 2023, impede a emissora de produzir os especiais Som Brasil e Por Toda Minha Vida dedicados à artista. A cláusula, que abrange séries, documentários e filmes, transfere à gigante do streaming o monopólio sobre a narrativa da vida da cantora — incluindo até mesmo imagens de arquivo inéditas.
Amazon e o controle póstumo: um novo capítulo na indústria do entretenimento
O acordo, avaliado em R$ 50 milhões (segundo o Broadcasting Brasil), garante à Amazon direitos totais sobre o legado de Marília até 2028. Ruth Dias, mãe da cantora, não participou das negociações — seu nome sequer consta como signatária. A estratégia reflete uma tendência global: 68% dos artistas falecidos entre 2020 e 2024 tiveram seus acervos adquiridos por plataformas de streaming, conforme a IFPI.
Impacto na Globo: quando o corporativo cala o afeto
Em e-mails vazados ao LeoDias, a produtora Chá Throne (representante da Amazon) alertou a Globo em 10 de abril de 2024: qualquer produção independente violaria o contrato. A emissora, que planejava reunir 40 colegas de Marília no Som Brasil, cancelou o projeto para evitar processos — um revés em sua tradição de tributos, como os feitos a Elis Regina e Chorão.
Fãs reféns: entre a saudade e a assinatura obrigatória
Para 28 milhões de fãs brasileiros (dados do IBGE), a exclusividade significa acesso restrito. Apenas 18% dos lares do Nordeste — região onde Marília tinha 43% de seu público — possuem assinatura do Prime Video. Enquanto isso, o documentário Marília: O Filme, previsto para 2025 na Amazon, promete detalhes íntimos, como áudios pessoais e diários nunca revelados.
Qualidade x democratização: o dilema do legado artístico
A Amazon alega que a exclusividade assegura "padrões elevados", mas especialistas criticam a monopolização da memória cultural. "Artistas viram produtos de catálogo. Fãs idosos ou de baixa renda são excluídos", dispara Luís Antônio Giron, crítico da Folha. Enquanto isso, o filme Para Sempre Marília, em produção, já enfrenta polêmicas: familiares contestam a escolha de atrizes e roteiristas não consentidas.
O preço da eternidade digital
A Globo tenta contornar o bloqueio com menções rápidas em programas como Fantástico, mas fãs pedem mais: 550 mil assinaturas colhidas no Change.org exigem tributos livres de direitos autorais. Enquanto a Justiça não decide se heranças culturais podem ser privatizadas, Marília Mendonça — símbolo de conexão com as massas — torna-se paradoxalmente inacessível àqueles que a consagraram.