Publicado em: 30/03/2025
De onde vem a inteligência das crianças? A ciência revela o peso dos genes maternos
A discussão sobre a herança genética da inteligência ganhou novos contornos com avanços recentes na genômica. Estudos indicam que até 60% da variação cognitiva em crianças está ligada a fatores genéticos, segundo uma meta-análise publicada na Nature Genetics (2023). Mas a pergunta crucial persiste: qual genitor influencia mais esse processo?
O cromossomo X e a herança intelectual: por que as mães são decisivas
Pesquisas da Universidade de Ulm (Alemanha), divulgadas em 2024, reforçam que genes associados à cognição estão concentrados no cromossomo X. Como as mulheres possuem dois cromossomos X (XX), contra apenas um nos homens (XY), há maior probabilidade de transmitirem genes ligados à inteligência. Um experimento histórico com camundongos, citado pelo The Independent, mostrou que filhotes com DNA materno predominante desenvolveram cérebros 10% maiores e conexões neurais mais complexas.
Por que os genes paternos da inteligência são “silenciados”?
Genes condicionados – aqueles que só se ativam se herdados de um genitor específico – explicam parte do mistério. No caso da inteligência, quando os genes vêm do pai, tendem a ser desligados, enquanto os maternos permanecem ativos. Esse mecanismo, detalhado em um estudo da Cell (2023), ocorre porque células do córtex cerebral priorizam genes maternos para funções como memória e raciocínio lógico.
O legado do pai: instintos, emoções e sobrevivência
Embora a inteligência complexa dependa mais dos genes maternos, os pais contribuem com características vitais. Genes paternos influenciam a amígdala cerebral, região ligada ao processamento emocional e à resposta ao estresse. Dados do Journal of Neuroscience (2024) associam variantes paternas a maior resiliência em situações de risco – uma herança crucial em um mundo onde 32% das crianças sofrem ansiedade crônica, segundo a OMS.
Ambiente vs. genética: a interação que define o futuro cognitivo
Apesar do peso da genética, 40% da inteligência é moldada por fatores externos. Um relatório da UNICEF (2024) alerta que crianças em ambientes estimulantes têm QI 15 pontos maior, em média, mesmo com predisposição genética moderada. Nutrição, acesso à educação e afeto parental podem modular a expressão de genes – inclusive os herdados do pai. “A genética carrega a arma, mas o ambiente puxa o gatilho”, resume a geneticista Luana Silva, da USP.
Enquanto a ciência avança, fica claro: a inteligência não é uma loteria biológica, mas um mosaico de heranças e oportunidades. Cuidar desse equilíbrio é urgente – principalmente em um país onde 44% das crianças vivem em lares sem livros, segundo o IBGE (2023). A resposta, portanto, está tanto nos genes quanto nas mãos da sociedade.