Publicado em: 25/03/2025
Ronco e apneia do sono: um alerta silencioso que afeta 72% dos brasileiros
Por Dr. Ordival Augusto Rosa, especialista em Medicina do Sono do IPO
Noites mal dormidas, cansaço crônico e lapsos de concentração não são apenas sinais de uma rotina agitada. Podem ser sintomas de distúrbios do sono que comprometem a saúde física e mental. Dados alarmantes da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz, 2023) revelam que 72% dos brasileiros sofrem com problemas relacionados ao sono, com destaque para o ronco e a apneia obstrutiva do sono (AOS) — condições que, se negligenciadas, elevam o risco de doenças cardiovasculares, hipertensão e até acidentes por sonolência diurna.
Ronco × Apneia: entenda os riscos
Enquanto o ronco é causado pela vibração das estruturas da garganta durante a respiração, gerando ruídos que podem ultrapassar 90 decibéis (equivalente a um liquidificador), a apneia do sono é um distúrbio grave marcado por interrupções repetidas da respiração por pelo menos 10 segundos. Essas pausas reduzem a oxigenação do sangue em até 50%, forçando o corpo a acordar parcialmente centenas de vezes por noite para retomar a respiração.
“Muitos pacientes subestimam o ronco, tratando-o como um incômodo social. Mas ele pode ser o primeiro sinal da apneia, que está diretamente ligada a aumento de 40% no risco de infarto e 30% de AVC”, alerta o Dr. Ordival Augusto Rosa, médico do Instituto Paranaense de Otorrinolaringologia (IPO), maior centro da América Latina em otorrinolaringologia.
Sinais de alerta e impacto na qualidade de vida
Além do barulho, sintomas como:
Sonolência excessiva diurna (70% dos casos de apneia não diagnosticados);
Sensação de sufocamento ao dormir;
Dificuldade de memória e irritabilidade;
Fadiga ao acordar, mesmo após horas de sono.
“Um sono verdadeiramente restaurador não deixa resquícios de cansaço. Quando a pessoa acorda exausta, é um sinal vermelho”, reforça o especialista.
Diagnóstico e tratamento: da prevenção à cirurgia
O exame padrão-ouro para detectar apneia é a polissonografia, que monitora a respiração, oxigenação, atividade cerebral e cardíaca durante o sono. “O teste pode ser feito em casa ou no hospital, conforme a complexidade do caso”, explica o médico.
Opções de tratamento incluem:
Mudanças de hábito: perda de peso, evitar álcool antes de dormir e ajustar a posição do sono (dormir de lado reduz o ronco em 60%);
CPAP: dispositivo que mantém as vias aéreas abertas durante o sono, tratamento mais eficaz para apneia moderada a grave;
Cirurgias: correções nasais, faríngeas ou maxilares para casos com obstruções anatômicas.
Um problema de saúde pública
A apneia não tratada está associada a 3x mais chances de desenvolver diabetes tipo 2 e 2x mais risco de depressão, segundo a American Academy of Sleep Medicine (2023). No Brasil, estima-se que 50% dos casos permanecem sem diagnóstico, agravando custos para o sistema de saúde.
“A boa notícia é que esses distúrbios são controláveis. Buscar ajuda médica não só melhora a qualidade do sono, mas prolonga a vida”, finaliza o Dr. Ordival. Enquanto isso, a mensagem é clara: ronco persistente não é normal. É um sinal de que o corpo precisa de atenção — antes que o preço a pagar seja alto demais.