Publicado em: 19/04/2025
Um terço da população mundial experimenta a incômoda sensação da tontura, sendo as mulheres frequentemente mais afetadas devido às flutuações hormonais. Embora comum, esse sintoma pode ser um alerta precoce para condições mais sérias, incluindo o Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Para lançar luz sobre a importância do diagnóstico e tratamento adequados, o dia 22 de abril marca o Dia Nacional da Tontura, uma iniciativa da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF). A data visa educar a população e os profissionais de saúde, incentivando a busca pela causa da tontura e diferenciando-a da vertigem. A mensagem central é clara: a tontura nunca deve ser ignorada.
Um Sintoma Multifacetado: Entrevista com o Dr. Ricardo Fonseca
O leque de doenças que podem se manifestar através da tontura é vasto, como explica o Dr. Ricardo Fonseca, neurologista com foco em distúrbios do equilíbrio. "Desde problemas no ouvido interno, como a labirintite e a Doença de Menière, até condições sistêmicas como diabetes, anemia e alterações cardiovasculares, a tontura pode ser um sinalizador", afirma o especialista. Ele também ressalta a forte ligação com fatores emocionais. "Ansiedade, quadros depressivos e a síndrome do pânico podem desencadear ou intensificar a sensação de desequilíbrio."
Dr. Fonseca enfatiza os riscos de negligenciar a tontura. "Episódios frequentes podem levar a quedas, especialmente em idosos, com consequências graves. Além disso, não tratar a causa subjacente pode levar a uma piora do quadro e a outras complicações neurológicas ou cardiovasculares a longo prazo."
Desvendando as Sensações: Vertigem, Desequilíbrio e Mais:
Os pacientes descrevem a tontura de diversas maneiras: uma ilusão de movimento do ambiente ou do próprio corpo (vertigem), uma sensação iminente de desmaio ou cabeça vazia, a dificuldade em manter o equilíbrio e a instabilidade ao caminhar, ou até mesmo uma sensação de flutuação ou de estar "fora do corpo". "Esses sintomas refletem uma disfunção no sistema responsável por integrar as informações sensoriais que nos dão a noção de espaço e movimento", explica Dr. Fonseca.
O Caminho do Diagnóstico e Tratamento Personalizado:
Identificar a causa exata da tontura é o primeiro passo crucial. "Uma história clínica detalhada, um exame neurológico completo e, em alguns casos, exames complementares como a audiometria, a vectoeletronistagmografia e exames de imagem cerebral podem ser necessários para um diagnóstico preciso", detalha o neurologista.
O tratamento, segundo Dr. Fonseca, é altamente individualizado. "Dependendo da causa, podemos indicar medicamentos para controlar os sintomas, fisioterapia vestibular para reabilitar o equilíbrio, psicoterapia para quadros de ansiedade ou depressão associados, ou até mesmo procedimentos cirúrgicos em casos específicos."
Além da intervenção médica, o especialista destaca a importância de um estilo de vida saudável. "Atividade física regular, uma dieta equilibrada, boa hidratação e estratégias eficazes para gerenciar o estresse podem complementar o tratamento e ajudar a prevenir novas crises."
A Intrigante Conexão com a Enxaqueca Vestibular:
A Campanha da Tontura deste ano, promovida pela ABORL-CCF e pela Academia Brasileira de Otoneurologia (ABON), com foco na semana de 21 a 27 de abril, lança luz sobre uma relação muitas vezes subestimada: a ligação entre a tontura e a enxaqueca. O tema central é “Tontura é coisa séria: sabia que dor de cabeça pode ter relação com tontura?”.
"A enxaqueca vestibular é uma causa comum de tontura recorrente, mas frequentemente não é reconhecida", alerta Dr. Fonseca. "Muitos pacientes com essa condição sofrem por anos sem um diagnóstico correto." A enxaqueca vestibular vai além da dor de cabeça latejante. Seus sintomas podem incluir episódios de tontura com duração variável, sensibilidade aumentada à luz (fotofobia), ao som (fonofobia) e a odores, além de possíveis auras visuais. "É importante notar que a dor de cabeça nem sempre está presente durante os episódios de tontura vestibular, o que pode dificultar o diagnóstico", conclui o especialista, reforçando a necessidade de uma avaliação médica especializada diante de quadros de tontura persistente.