Publicado em: 19/06/2025
Fortaleza, Ceará-Um caso que acendeu o alerta sobre rituais espirituais e os riscos envolvidos: o empreendedor Phellipe Adler da Silva Santos, de 31 anos, que estava desaparecido desde o último sábado (14), foi localizado na terça-feira (17) em uma área de mata densa na Floresta Nacional do Araripe, no município de Barbalha, interior do Ceará. Ele havia participado de um ritual com chá de ayahuasca e sumiu poucas horas após a cerimônia.
Phellipe saiu de Juazeiro do Norte e se dirigiu ao Sítio Melo, em Barbalha, para participar de um ritual conduzido pelo coletivo Aní Uná, um grupo que se dedica a práticas culturais e espirituais utilizando recursos da floresta.
Após três dias de intensas buscas, que contaram com o apoio do Corpo de Bombeiros (com drones e cães farejadores) e moradores da região, Phellipe foi finalmente encontrado por agentes da Polícia do Meio Ambiente no Sítio Malhada, próximo à divisa com Pernambuco. O empreendedor apresentava sinais visíveis de desidratação, ferimentos pelo corpo e diversas picadas de insetos. Ele foi imediatamente levado ao Hospital Regional do Cariri, onde permanece sob cuidados médicos.
Em nota, o coletivo Aní Uná informou que Phellipe demonstrou um "comportamento atípico" pouco tempo depois de consumir a ayahuasca. A organização afirmou que realiza uma avaliação prévia para determinar se os participantes estão aptos ao ritual e que o jovem foi acompanhado de perto durante todo o processo.
Ainda segundo o coletivo, mesmo sob os efeitos do chá, Phellipe teria expressado o desejo de sair do local. Como dirigir naquele estado não seria seguro, ele foi convencido a permanecer. No entanto, momentos depois, teria se afastado do grupo de forma repentina, atravessando uma cerca e adentrando uma área de vegetação densa e sem trilhas.
A ayahuasca é uma bebida psicoativa tradicionalmente utilizada em rituais religiosos por povos indígenas da América Latina. Produzida a partir da mistura de folhas da planta Psychotria viridis e do cipó Banisteriopsis caapi (conhecido como "jagube"), a bebida provoca efeitos alucinógenos e estados alterados de consciência. Conhecida como "cipó dos espíritos" ou "vinho das almas", seu uso se expandiu para grupos espirituais e terapêuticos em áreas urbanas nas últimas décadas.
Estudos sobre efeitos terapêuticos: Uma das maiores pesquisas sobre o uso da ayahuasca no Brasil, publicada em 2018 pelo Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (ICe-UFRN) e coordenada pelo neurocientista Dráulio Araújo, investigou os efeitos do chá no tratamento da depressão resistente. Os resultados mostraram que 67% dos pacientes apresentaram melhora significativa, com a bebida estimulando regiões do cérebro ligadas à introspecção e à quebra de padrões de pensamento negativo.
Apesar dos resultados promissores, os pesquisadores alertam que o uso da ayahuasca não é indicado para todos. Pessoas com predisposição a distúrbios mentais, como esquizofrenia, não devem consumir a substância. Também foi reforçado que, embora cause alterações psíquicas temporárias, a bebida não gera dependência química.
O caso de Phellipe Adler reforça a necessidade de cautela e responsabilidade ao participar de rituais com substâncias que alteram a consciência, e a importância de grupos que as administram garantirem a segurança e o acompanhamento adequado dos participantes.
Qual a sua opinião sobre a regulamentação e a segurança em rituais que utilizam substâncias como a ayahuasca?