Publicado em: 22/05/2025
A seca no Nordeste não é novidade, mas seus impactos continuam devastadores. Estima-se que, atualmente, cerca de 10 milhões de pessoas na região são diretamente afetadas pela falta de chuvas e suas consequências. Estados como Ceará, Bahia e Pernambuco, por exemplo, registraram, em meses recentes, 100% ou a maior parte de seus territórios sob influência de seca, seja ela fraca, moderada ou extrema. É um cenário de desafio constante para a agricultura familiar, que muitas vezes perde toda a sua produção.
Para mudar essa realidade e garantir que o sertanejo tenha um futuro mais resiliente, o Ceará está lançando um projeto ambicioso: o “Sertão Vivo”. Com um investimento de R$ 251 milhões, a iniciativa visa fortalecer 72 municípios cearenses que vivem na linha de frente dos efeitos das mudanças climáticas.
Imagine a vida de Josefa Maria da Silva, uma agricultora de 58 anos que vive em Salitre, no Cariri cearense. Dona Josefa, como é conhecida na comunidade, viu sua pequena plantação de milho e feijão murchar ano após ano. A cada verão sem chuva, a esperança diminuía, e a preocupação com a comida na mesa aumentava. Ela é uma das milhares de mulheres líderes de família no sertão que enfrentam a seca com a força de um juazeiro, mas que precisam de apoio para que suas raízes não sequem.
É exatamente para famílias como a de Dona Josefa que o “Sertão Vivo” chega como um raio de esperança. O projeto, coordenado pela Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA), vai selecionar 63 mil famílias ainda este ano. A ideia é oferecer não só dinheiro, mas também algo que vale ouro para quem vive da terra: assistência técnica de ponta. Isso significa aprender a usar a água de forma mais inteligente, a plantar espécies mais resistentes ao clima, a cuidar do solo para que ele se recupere e a transformar a própria realidade.
É comum ouvir notícias sobre chuvas volumosas nas grandes cidades costeiras do Nordeste, como Fortaleza ou Recife, e a gente se pergunta: "Mas e no sertão? Por que a água não chega lá?" Essa é uma questão fundamental para entender a complexidade da seca.
O principal motivo é que o regime de chuvas no semiárido nordestino é muito diferente do litoral. Enquanto na costa as chuvas são mais abundantes e regulares, influenciadas pela proximidade do oceano e por sistemas meteorológicos como a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), o interior sofre com a chamada "continentalidade".
O sertão está mais distante do oceano, o que diminui a umidade do ar que chega até lá. Além disso, a topografia da região também influencia. Muitas vezes, as chuvas que se formam no litoral ou em áreas mais úmidas perdem força e umidade ao avançarem para o interior, sendo "bloqueadas" por serras ou se dissipando antes de alcançar as áreas mais secas.
Outro fator importante é a variabilidade climática. O semiárido é caracterizado por longos períodos de estiagem intercalados com chuvas que, quando ocorrem, são muitas vezes irregulares, mal distribuídas e de curta duração. Ou seja, pode chover forte por um dia, mas essa água se perde rapidamente por escoamento ou evaporação, sem penetrar o solo o suficiente para reabastecer os lençóis freáticos ou garantir a subsistência das plantações por muito tempo. Para piorar, nos últimos anos, as mudanças climáticas têm intensificado esse cenário, tornando os períodos de seca mais longos e as chuvas ainda mais irregulares e intensas quando acontecem, o que pode causar mais estragos do que benefícios.
A história da seca no Nordeste é longa e cheia de desafios, com episódios marcantes que remontam a séculos. Mas com investimentos como o do "Sertão Vivo", que busca não apenas mitigar os efeitos da falta de água, mas capacitar o agricultor a se adaptar e produzir, a tecnologia e o conhecimento podem se tornar a principal ferramenta para que o sertanejo escreva um novo capítulo, de superação e prosperidade.
Qual sua opinião sobre a importância de investir em projetos que capacitam as comunidades locais a enfrentar as mudanças climáticas, considerando a complexidade do regime de chuvas no semiárido? Deixe seu comentário!