Publicado em: 03/06/2025
"Nunca teria dado certo": A lendária saga John Wick quase teve outro rosto — e o impacto poderia ter sido catastrófico
Fanática por filmes e séries, Ana possui um acervo de informações aleatórias sobre cultura pop e gosta de encarar câmeras imaginárias como se estivesse em Fleabag ou The Office. Mas, mesmo com tanto conhecimento de bastidores, poucos sabiam que o icônico estilo “Wick” já havia sido testado — e falhado — antes de sua estreia oficial. O que hoje é reconhecido como um marco da ação contemporânea quase nasceu em circunstâncias totalmente equivocadas.
A reinvenção do gênero: quando Keanu Reeves virou sinônimo de Gun-Fu
Em 2014, John Wick: De Volta ao Jogo estreou nos cinemas com uma proposta ousada: um ex-assassino profissional, devastado pela perda de sua esposa e pela violência que atinge seu último elo emocional, entra em uma jornada implacável de vingança. Keanu Reeves entrega uma performance intensa e disciplinada, em meio a uma estética marcada pelo chamado Gun-Fu — uma fusão estilizada entre combate corpo a corpo e armas de fogo. Câmeras fluidas, coreografias extensas e precisão técnica transformaram o filme em uma aula de direção e coordenação de ação.
O estilo, apesar de ter sido turbinado por Chad Stahelski, não foi inventado por ele. A inspiração vem do cinema asiático, especialmente dos filmes de John Woo, como The Killer e Fervura Máxima. Ainda assim, John Wick conseguiu reinventar o conceito para uma nova geração, adicionando uma dose elevada de sofisticação coreográfica e narrativa. O sucesso foi estrondoso — e rendeu uma franquia bilionária que até 2024 acumulou mais de US$ 1 bilhão nas bilheteiras globais, consolidando Keanu Reeves como ícone definitivo da ação moderna.
Jason Statham e o estilo que nunca encaixou
O que poucos sabem é que o embrião do estilo John Wick surgiu dois anos antes — e quase foi estrelado por outro astro da ação: Jason Statham. Em O Código (2012), Stahelski já atuava como diretor de segunda unidade, além de coordenador de ação e coreógrafo de lutas. Ao lado do também lendário JJ Perry, propuseram à produção uma abordagem inédita para o gênero: um tipo de combate com armas inspirado em Aikido e outros estilos de movimento, que mais tarde se tornaria a essência de John Wick.
Statham, conhecido por seu físico explosivo e estilo direto, até chegou a experimentar o conceito. Há pequenos trechos do filme que remetem ao estilo que viria a revolucionar o cinema dois anos depois. Mas, como o próprio Stahelski contou em entrevista à Slashfilm, o resultado foi... estranho. "Em termos de tom, logística e finanças, nunca teria dado certo", disse. O próprio Statham e o diretor Boaz Yakin concordaram que aquele tipo de ação não se encaixava no personagem — um ex-policial sem-teto tentando sobreviver. “Simplesmente não era o personagem certo, o tom certo e o filme certo para isso”, reforçou Stahelski.
Uma linha tênue entre fracasso e revolução
É intrigante pensar como pequenas decisões nos bastidores podem definir o rumo da cultura pop. Se o estilo tivesse sido aplicado de forma errada — como quase aconteceu com Statham — talvez jamais teríamos conhecido John Wick como ele é hoje. A ação estilizada que redefiniu o gênero poderia ter sido arquivada como uma tentativa fracassada, um conceito ousado demais para seu tempo.
Felizmente, o momento certo chegou, com o ator certo, na narrativa perfeita. E o resto, como dizem, é história — ou, melhor dizendo, um capítulo inesquecível do cinema moderno de ação.