Publicado em: 13/05/2025
Fortaleza, Ceará. O Brasil enfrenta uma batalha silenciosa contra o diabetes, doença crônica que afeta alarmantes 16,6 milhões de pessoas, colocando o país na sexta posição mundial em número de portadores, segundo dados da IDF (International Diabetes Federation). A gravidade da situação se acentua ao constatarmos que essa condição metabólica é a quinta maior causa de morte em território nacional e sua prevalência cresce de forma preocupante há 25 anos.
Em Fortaleza, a realidade não é diferente. O estilo de vida moderno, marcado pelo sedentarismo e pela alimentação inadequada, contribui para o aumento de casos. O oftalmologista renomado Dr. Ricardo Albuquerque, chefe do serviço de oftalmologia do Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC) e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), alerta para a forte ligação entre o diabetes e o desenvolvimento de graves complicações oculares. "O controle glicêmico é fundamental, mas a prevenção e o acompanhamento oftalmológico regular são igualmente cruciais para preservar a visão dos pacientes diabéticos em Fortaleza", enfatiza o especialista.
Novo Medicamento Promete, Mas Exige Cautela:
Em maio, o mercado brasileiro começou a receber o Mounjaro (tirzepatida), uma nova injeção subcutânea de aplicação semanal para o tratamento do diabetes, similar ao já conhecido Ozempic (semaglutida). Segundo estudos, a principal diferença reside na eficácia, já que o Mounjaro ativa dois receptores celulares (GIP e GLP-1), enquanto o Ozempic atua apenas no GLP-1. Contudo, o Dr. Ricardo Albuquerque pondera: "Embora promissor no controle glicêmico, o Mounjaro pode apresentar maior desconforto gástrico em alguns pacientes. A escolha do tratamento deve ser individualizada e feita em conjunto com o médico endocrinologista".
Sintomas Ocultos: A Importância do Check-up Preventivo:
O Dr. Ricardo Albuquerque destaca que, frequentemente, as alterações na visão não são os primeiros sinais do diabetes. Os sintomas clássicos incluem sede excessiva, aumento da frequência urinária, perda de peso inexplicável e fadiga. No entanto, nem todos os pacientes manifestam esses sinais precocemente. "Em Fortaleza, observamos muitos casos de retinopatia diabética diagnosticados em pacientes que não apresentavam sintomas clássicos do diabetes. Por isso, a história familiar da doença é um fator de risco importante, e a realização de check-ups clínicos periódicos, incluindo um simples hemograma, é essencial para a detecção precoce e prevenção de complicações graves, inclusive na visão", alerta o oftalmologista.
Retinopatia Diabética: A Ameaça Silenciosa à Visão:
O controle da glicemia é um pilar fundamental no tratamento do diabetes, mas o Dr. Ricardo Albuquerque enfatiza que não é o único fator determinante para a saúde ocular a longo prazo. "O tempo de convívio com a doença é um fator crucial. Após cinco anos de diagnóstico, o risco de desenvolver retinopatia diabética aumenta significativamente. Essa condição pode levar ao edema macular (inchaço na área central da retina), formação de novos vasos sanguíneos anormais no fundo do olho e acúmulo de sorbitol, causando extravasamento de líquido e, consequentemente, perda progressiva da visão". O tratamento da retinopatia diabética em Fortaleza, disponível em hospitais como o HUWC e a Santa Casa de Misericórdia, é contínuo e pode envolver aplicações de laser, injeções intravítreas de medicamentos antiangiogênicos e cirurgia em casos de hemorragias ou descolamento da retina.
Catarata Precoce: Nublando o Futuro dos Diabéticos:
O especialista explica que as flutuações nos níveis de glicose, com repetidos processos de hidratação e desidratação do cristalino (a lente natural do olho), podem alterar suas fibras, antecipando o desenvolvimento da catarata, a opacificação do cristalino responsável por uma parcela significativa dos casos de cegueira tratável no Brasil. "Em pacientes diabéticos de Fortaleza, observamos o surgimento da catarata em idades mais precoces. O único tratamento eficaz é a cirurgia, na qual o cristalino opaco é substituído por uma lente intraocular. Quanto antes o procedimento for realizado nesses pacientes, melhor o prognóstico visual", afirma Dr. Ricardo Albuquerque. A catarata, ao reduzir a quantidade de luz azul que atinge a retina, também pode interferir na produção de melatonina, o hormônio regulador do sono, levando a noites mal dormidas, estresse, ganho de peso e maior resistência à insulina nos diabéticos.
Miopia Flutuante: A Viscosidade Sanguínea em Jogo:
A relação entre os níveis de glicemia e a visão também se manifesta na miopia. "Quanto mais alta a glicemia, maior a viscosidade do sangue, o que pode provocar um aumento transitório da miopia, especialmente após as refeições", explica o Dr. Ricardo Albuquerque. Nas mulheres, a influência dos hormônios estrógenos pode intensificar a absorção de água pelo cristalino, contribuindo para o aumento da miopia. Períodos prolongados de jejum podem ter o efeito contrário, levando à desidratação do cristalino e à diminuição da miopia. Por isso, o oftalmologista ressalta a importância de verificar o controle glicêmico antes da prescrição de óculos. A recomendação para manter a estabilidade da refração e da glicemia é alimentar-se a cada três horas, priorizando grãos integrais, verduras e frutas em pequenas porções.
Glaucoma Secundário: Uma Complicação Temível:
O Dr. Ricardo Albuquerque alerta que a retinopatia diabética pode desencadear o glaucoma, uma doença caracterizada pela formação de novos vasos sanguíneos anormais (neovasos), menor irrigação sanguínea e inflamações oculares. A dificuldade no escoamento do humor aquoso, o líquido que preenche o olho, causa um aumento da pressão intraocular, levando à morte das células do nervo óptico e, consequentemente, à perda irreversível do campo visual. "O glaucoma neovascular, uma complicação da retinopatia diabética, tem uma progressão rápida e agressiva. Por isso, o acompanhamento oftalmológico anual é ainda mais crucial para os pacientes diabéticos em Fortaleza", enfatiza o especialista.
Onde Buscar Ajuda em Fortaleza:
Para a população de Fortaleza que necessita de acompanhamento e tratamento para o diabetes e suas complicações oculares, existem diversas opções de atendimento gratuito ou a preços acessíveis:
O Dr. Ricardo Albuquerque finaliza com uma mensagem enfática: "As alterações oculares causadas pelo diabetes que podem levar à cegueira geralmente surgem após 10 anos de diagnóstico. No entanto, com um tratamento contínuo e um acompanhamento oftalmológico anual, é possível preservar a visão por toda a vida. A prevenção e a detecção precoce são as nossas maiores armas contra as complicações do diabetes nos olhos". Em Fortaleza, a informação e o acesso aos serviços de saúde são passos essenciais para garantir um futuro com mais qualidade de vida e visão para os milhões de brasileiros afetados pela doença.