Publicado em: 28/04/2025
Fortaleza, Ceará – A forma como nos despedimos de nossos entes queridos está passando por uma transformação significativa, impulsionada por uma crescente consciência ambiental. Enquanto a cremação já se consolida como uma preferência nacional, representando mais de 60% dos contratos funerários, uma nova tendência começa a ganhar força no Brasil, ecoando um movimento global: os funerais ecológicos. E, embora ainda em fase inicial por aqui, o Ceará já demonstra potencial para aderir a essa prática que promete um impacto ambiental drasticamente menor.
Um estudo recente da Global Growth Insights aponta para um crescimento de 35% na procura por caixões biodegradáveis e alternativas sustentáveis de sepultamento em todo o mundo. Essa busca reflete uma mudança cultural profunda, onde o último ato de cuidado se estende não apenas à memória de quem se foi, mas também ao planeta que deixamos como herança.
O Que Define um Funeral Ecológico?
Vinicius Chaves de Mello, CEO do Grupo Riopae, explica que a essência de um funeral ecológico reside na escolha consciente de práticas que respeitam o ciclo natural da vida. Isso implica a priorização de materiais 100% biodegradáveis e a eliminação de processos prejudiciais ao meio ambiente, como o embalsamamento químico e o uso excessivo de energia e recursos.
A distinção entre um funeral tradicional e um ecológico é marcante. Enquanto o primeiro frequentemente envolve caixões revestidos de verniz, metais e plásticos, além de líquidos tóxicos para conservação, o segundo busca eliminar todos os componentes não biodegradáveis. Em vez de jazigos de concreto, a preferência recai sobre o "solo vivo", permitindo que o corpo retorne à terra de forma natural e sustentável.
Materiais Sustentáveis e Inovações:
A chave para o funeral ecológico está nos materiais utilizados. Urnas e caixões são confeccionados com papelão reciclado, bambu certificado, fibras de coco, salgueiro e juta – todos projetados para se decompor rapidamente sem liberar substâncias nocivas. Uma inovação particularmente interessante são as "urnas sementes", que carregam em seu interior uma muda de árvore, transformando o local de descanso final em um símbolo de vida e renovação.
Além das urnas sementes, outras técnicas sustentáveis vêm ganhando destaque, como a compostagem humana acelerada, que transforma restos mortais em solo fértil em poucas semanas, e a impressão 3D de caixões com biomateriais. A tecnologia também se alia à causa verde, com aplicativos de memorialização digital e certificações blockchain garantindo a rastreabilidade ambiental e a transparência para as famílias.
Ceará no Caminho da Sustentabilidade Póstuma?
No Brasil, o conceito de funeral ecológico ainda engatinha, com poucas opções amplamente divulgadas. No entanto, a crescente preocupação ambiental da população cearense e a busca por alternativas mais sustentáveis em todos os aspectos da vida abrem espaço para o desenvolvimento desse mercado em nosso estado. Embora não haja registros generalizados de cemitérios exclusivamente ecológicos no Ceará nos moldes dos encontrados em países como EUA, Reino Unido e Austrália (com certificações como o Green Burial Council, que proíbem concreto e produtos químicos), a tendência global certamente influenciará as escolhas futuras.
O Cenário Nacional e o Futuro Verde:
Enquanto o Brasil ainda está dando os primeiros passos, empresas consolidadas no setor funerário em outras regiões já começam a adicionar linhas ecológicas a seus portfólios e a buscar parcerias com cemitérios que adotam práticas mais sustentáveis. Novas funerárias com foco exclusivo no "green burial" também estão surgindo, sinalizando uma transição gradual de um mercado tradicional para uma abordagem mais consciente.
Menos Carbono, Mais Vida:
Os funerais ecológicos representam uma poderosa ferramenta na redução da pegada de carbono associada ao luto. Ao eliminar o embalsamamento químico, reduzir o transporte de materiais pesados e evitar processos industriais intensivos, estima-se uma redução de até 70% nas emissões de CO₂ em comparação com um funeral convencional. Além disso, o "solo vivo" resultante dos sepultamentos ecológicos pode atuar como um sumidouro natural de carbono.
A escolha por um funeral ecológico é, para muitos, um último ato de coerência com seus valores de respeito à natureza. Essa modalidade, que muitas vezes se mostra economicamente mais acessível, não é apenas uma tendência passageira, mas parte de uma revolução cultural que redefine nossa relação com o fim da vida. Ao transformar sepulturas em espaços de regeneração, o funeral ecológico oferece conforto às famílias e esperança para um futuro mais verde, provando que nosso último ato pode ser um passo em direção a um planeta mais saudável.