Publicado em: 20/05/2025
Por Redação PageNews
A imagem é, no mínimo, perturbadora: águas que, de repente, assumem uma tonalidade de sangue, tingindo rios e praias de vermelho vivo. Um fenômeno natural que, ao longo dos anos, tem sido registrado em diversas partes do Brasil, gerando apreensão e, para os mais místicos, até alimentando teorias de um apocalipse iminente. Mas o que realmente está por trás desse "mar de sangue"? A ciência tem a resposta, e ela é menos assustadora do que parece.
O Brasil já presenciou esse espetáculo visual (e muitas vezes preocupante) em várias ocasiões. Um dos casos mais notórios, e que viralizou na internet, foi em dezembro de 2023, na Praia do Paiva, em Cabo de Santo Agostinho, Pernambuco. Imagens do mar com uma coloração avermelhada intensa circularam amplamente, deixando moradores e turistas perplexos.
Outros registros semelhantes já ocorreram em diversas partes do Nordeste, como na Paraíba e no Rio Grande do Norte, e até mesmo em rios do interior do país. Embora as datas exatas variem, o padrão se repete: uma mudança brusca e impactante na cor da água.
Apesar do nome popular e da aparência dramática, o "mar de sangue" ou "rio de sangue" não tem relação alguma com sangue ou com eventos apocalípticos. A causa desse fenômeno é puramente natural e se chama "floração de algas" ou "maré vermelha".
Basicamente, o que acontece é uma proliferação EXCESSIVA e rápida de micro-organismos aquáticos, como algas ou cianobactérias, que possuem pigmentos vermelhos ou marrons. Fatores como:
Essas condições criam um ambiente ideal para que esses micro-organismos se multipliquem de forma descontrolada, formando verdadeiras manchas gigantes que alteram a cor da água.
A história e os registros científicos estão repletos de casos onde as águas assumiram a temida coloração rubra.
Mar Vermelho (Oriente Médio): Um dos exemplos mais famosos e que inclusive dá nome a um mar inteiro! A coloração avermelhada característica do Mar Vermelho é, em parte, atribuída à presença de uma cianobactéria chamada Trichodesmium erythraeum, que, quando em floração, pode cobrir grandes extensões da superfície, conferindo um tom marrom-avermelhado às águas. Este é um fenômeno milenar e de grande escala.
EUA (Flórida e Califórnia): As costas da Flórida, especialmente no Golfo do México, e da Califórnia são historicamente afetadas por marés vermelhas frequentes. Em 2018, a Flórida enfrentou uma das piores e mais longas florações de algas tóxicas em uma década, causando a morte massiva de peixes, aves e mamíferos marinhos, além de graves problemas respiratórios em pessoas que viviam ou visitavam a costa.
Chile: As regiões costeiras do Chile, especialmente na Patagônia, também sofrem com episódios de maré vermelha, que afetam a indústria pesqueira e de aquicultura (criação de salmão, por exemplo). Em 2016, uma grande floração tóxica causou enormes perdas econômicas e gerou um debate sobre as causas, incluindo o aquecimento global e a poluição.
China: A China, com sua vasta costa e intensa atividade industrial e agrícola, também registra casos de maré vermelha. O Mar Amarelo, por exemplo, ocasionalmente exibe florações de algas em grande escala, com impactos na vida marinha e na pesca.
Austrália: A Austrália já enfrentou diversos episódios de marés vermelhas, incluindo alguns que levaram ao fechamento de praias e à interrupção de atividades de pesca.
Apesar de ser um fenômeno natural, a "maré vermelha" pode trazer riscos. Algumas espécies de algas que causam essa coloração são tóxicas. Elas produzem substâncias que podem ser prejudiciais para a vida marinha (causando a morte de peixes e outros organismos) e, em casos mais graves, para humanos que entram em contato com a água ou consomem frutos do mar contaminados. Os riscos para a saúde humana incluem irritação na pele, problemas respiratórios e até intoxicação alimentar.
Por isso, quando a "água vira sangue", as autoridades ambientais geralmente emitem alertas, recomendando que as pessoas evitem o contato com a água e o consumo de frutos do mar da região afetada até que a situação se normalize.
Portanto, embora a imagem seja impressionante e as teorias de fim de mundo possam surgir, o "mar de sangue" é, na verdade, um lembrete da complexidade dos ecossistemas aquáticos e, muitas vezes, um sinal de alerta sobre a qualidade da água e a necessidade de preservação ambiental. O que parece um cenário apocalíptico é, na verdade, um fenômeno biológico, mas que exige nossa atenção e cuidado com o meio ambiente