Publicado em: 30/03/2025
SUS enfrenta críticas por reposição hormonal desatualizada na menopausa
Especialistas alertam que o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece opções limitadas e antiquadas para reposição hormonal durante a menopausa, fase que afeta cerca de 30 milhões de brasileiras em 2024, segundo a Febrasgo. A lista da Rename inclui estrogênios conjugados e progestágenos, mas a disponibilidade real varia conforme estados e municípios, criando desigualdades no acesso. "A lista do Ministério da Saúde não reflete a realidade", critica Dolores Pardini, endocrinologista da Sbem-SP, destacando que apenas o estriol vaginal tópico é facilmente encontrado.
Medicamentos obsoletos e riscos à saúde feminina
O SUS prioriza hormônios como o estrogênio conjugado, derivado da urina de éguas grávidas, considerado menos seguro frente a opções modernas como o estradiol, idêntico ao produzido pelo corpo feminino. André Malavasi, ginecologista do HC-FMUSP, explica que terapias transdérmicas (como géis) são mais seguras e eficazes, mas inexistentes na rede pública. A falta de atualização expõe mulheres a riscos cardiovasculares e tromboses, agravados pelo uso oral de hormônios antigos.
Falhas no diagnóstico e tratamentos inadequados
Casos como o de Fernanda de Souza, 35, ilustram as consequências do sistema fragilizado. Diagnosticada com menopausa precoce aos 25 anos, peregrinou por mais de 20 médicos no SUS sem receber orientação adequada. "Só descobri a causa aos 30 anos, em consulta particular, quando soube que não poderia engravidar", relata. Como muitas mulheres, ela foi tratada com antidepressivos e ansiolíticos, mascarando sintomas hormonais. Dados da Febrasgo revelam que 40% das mulheres no climatério são encaminhadas a psiquiatras antes de receberem diagnóstico correto.
Impacto do estudo WHI e desinformação persistente
O uso da terapia hormonal globalmente despencou após o estudo WHI (2002), que associou tratamentos a riscos cardiovasculares e câncer de mama. Malavasi ressalta, porém, que a pesquisa incluiu mulheres com média de 63 anos e condições pré-existentes, distorcendo resultados. "Quando analisamos pacientes dentro da janela ideal (50-59 anos), os benefícios superam os riscos", afirma. A desinformação persiste: 60% dos médicos do SUS ainda evitam a reposição hormonal por temores infundados, segundo a Sbem.
SUS estuda ampliação, mas urgência permanece
O Ministério da Saúde afirma avaliar novas tecnologias para o climatério, como implantes hormonais, ainda indisponíveis na rede pública. Enquanto isso, mulheres dependem de alternativas caras ou inadequadas. Para Pardini, a atualização da Rename é urgente: "O SUS precisa incorporar terapias modernas, que salvam vidas e reduzem custos com doenças evitáveis, como osteoporose e demência". Com uma população envelhecendo rapidamente, a demanda por políticas públicas atualizadas torna-se inadiável.