Publicado em: 30/04/2025
Cortar a carne é realmente melhor para a saúde?
Há uma percepção crescente de que dietas sem carne sejam intrinsecamente mais saudáveis, mas quando avaliamos o cenário com dados atualizados, a realidade mostra-se mais grave e complexa. Embora os benefícios de padrões alimentares à base de plantas sejam bem documentados, a inclusão ou substituição de carne na dieta requer atenção redobrada aos riscos associados ao seu consumo excessivo e aos métodos de processamento e preparo utilizados.
Panorama Global do Consumo de Carne O mundo produz mais de 350 milhões de toneladas de carne anualmente, e esse volume tem crescido consistentemente na última década. No Brasil, 98% da população consome algum tipo de carne, sendo que 50% ultrapassa as recomendações de consumo saudável estabelecidas pela Plataforma Dieta Saudável (PHD).
Riscos à Saúde e Mortalidade Estudos apontam que o consumo frequente de carnes processadas aumenta em 20% o risco de mortalidade por todas as causas, incluindo mortalidade cardiovascular, enquanto a ingestão de carnes vermelhas não processadas eleva esse risco em aproximadamente 11% a cada incremento de 100 g diários. Uma meta-análise recente também associou o consumo regular de carnes processadas e não processadas a uma redução na sobrevida geral (HR 0,80; p<0,001).
Carcinogenicidade e Câncer Colorretal A Agência Internacional para Pesquisa em Câncer (IARC) classificou as carnes processadas como carcinogênicas ao ser humano (Grupo 1) e as carnes vermelhas como provavelmente carcinogênicas (Grupo 2A). Estudos indicam que consumidores frequentes de carnes processadas têm até 40% mais risco de câncer colorretal e 30% a mais entre os de carnes vermelhas.
Diabetes Tipo 2 e Doença Cardiovascular O consumo diário de carnes processadas está associado a um aumento de 46% no risco de desenvolver diabetes tipo 2, enquanto cada porção adicional de carne vermelha não processada implica 24% a mais de risco. Quanto às doenças cardiovasculares, a ingestão de 50 g de carnes processadas por dia eleva o risco em 18% e a mesma quantidade de carnes vermelhas não processadas aumenta-o em 9% Universidade de Oxford.
Consumo de Aves e Percepções Enganosas Estudo com 4.869 participantes encontrou que ingestões superiores a 300 g semanais de carnes brancas, como frango, resultaram em 27% mais risco de mortalidade geral e maior incidência de cânceres gastrointestinais.
Conclusão O impacto da carne na saúde transcende a dicotomia vegetariano versus carnívoro e revela nuances que exigem atenção: a moderação, o tipo de corte, o método de preparo e, sobretudo, a frequência de consumo são fatores decisivos para evitar efeitos adversos ao organismo.