Publicado em: 24/03/2025
Ausência de Eduardo Bolsonaro nos EUA aprofunda instabilidade no PL e redefine cenário da direita para 2026
A decisão do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) de se licenciar do mandato e permanecer nos Estados Unidos, anunciada na última terça-feira (18), tem gerado avaliações unânimes entre aliados e rivais: o movimento enfraquece seu partido e embaralha as estratégias da direita para as eleições de 2026. Com 741 mil votos em 2022 — segundo maior desempenho do PL na Câmara —, sua ausência cria um vácuo que pode redistribuir influência entre candidaturas de direita que emergiram com o bolsonarismo, mas não necessariamente alinhadas aos interesses da legenda.
Impactos imediatos e incertezas futuras
A licença de Eduardo, válida por quatro meses (sem remuneração), ocorre em um momento crítico. Parlamentares do PL, que detém 92 cadeiras na Câmara, expressam preocupação com a perda de força eleitoral. Somente ele, Carla Zambelli (inelegível e sob risco de perder o mandato), Capitão Derrite (em transição para o PP) e Ricardo Salles (que migrou para o Novo) representaram mais de 2,5 milhões de votos em 2022, puxando a eleição de outros quatro deputados. Sem esses nomes, a sigla enfrenta o risco de encolher sua bancada.
A ausência do deputado também abre espaço para figuras como Salles, que mira o Senado por São Paulo, e o influenciador Pablo Marçal, em negociação com o União Brasil para disputar o governo paulista. Ambos simbolizam uma direita que busca capitalizar o eleitorado bolsonarista sem se prender à estrutura partidária do PL.
Cenário internacional e tensões internas
A estratégia de Eduardo nos EUA, onde pode permanecer até seis meses sem asilo, inclui tentativas de angariar apoio internacional — especialmente de setores alinhados a Donald Trump. Aliados mais próximos apostam que sua presença no exterior possa ampliar narrativas de "perseguição política" ao bolsonarismo, reforçadas após o elogio público de Trump ao deputado em evento conservador no final de fevereiro.
Internamente, porém, a decisão foi recebida com ceticismo. O próprio Jair Bolsonaro tentou dissuadir o filho, argumentando que a saída poderia ser interpretada como "fuga" em um momento de desgaste: a manifestação pró-anistia em Copacabana (16/03) reuniu apenas 30 mil pessoas, segundo o Datafolha, muito abaixo do 1 milhão projetado pelo ex-presidente. Além disso, a licença ocorre a uma semana do julgamento no STF que pode tornar Bolsonaro réu por suposta tentativa de golpe em 2022.
Desafios estratégicos e legados em jogo
Analistas destacam que o PL enfrenta um dilema duplo: enquanto tenta reter relevância sem suas principais lideranças, precisa conter a fragmentação de uma base eleitoral ainda leal ao bolsonarismo, mas cada vez mais dispersa. A saída de Eduardo — que era cotado para disputar Senado, governo de SP ou até Presidência — deixa a legenda sem um nome capaz de unificar o discurso em 2026.
Para piorar, o partido perdeu recentemente o controle da Comissão de Relações Exteriores, espaço que Eduardo abandonou. Enquanto isso, o projeto de anistia a envolvidos nos atos golpistas de 2023 não avança no Congresso, esvaziando a pauta unificadora do grupo.
Um futuro em aberto
O desfecho dessa crise dependerá de fatores como o tempo de permanência de Eduardo nos EUA, sua capacidade de mobilizar apoio externo e a reação do eleitorado à narrativa de perseguição. Enquanto isso, o PL tenta evitar um colapso que não apenas redefine seu lugar no espectro político, mas também testa a resistência de um movimento que, até agora, parecia indissociável do sobrenome Bolsonaro.
(Atualizado em 24/03/2025)