Publicado em: 16/04/2025
Por: FolhaPress
O governo Lula (PT) intensificou a pressão sobre parlamentares da base aliada que assinaram o pedido de urgência para o projeto de lei de anistia aos condenados pelos ataques golpistas de 8 de janeiro. Com um mapa de indicações políticas em mãos, a ministra da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Gleisi Hoffmann, lidera a ofensiva, cobrando lealdade e ameaçando revisar cargos federais ocupados por apadrinhados políticos dos aliados.
A proposta de anistia, que beneficia diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), gerou forte reação do governo. Gleisi Hoffmann, que já possuía um levantamento das indicações de cargos federais, acelerou a análise da relação entre os votos dos parlamentares e a relevância dos cargos ocupados por seus aliados. A ministra, segundo relatos, tem lembrado que o governo dispõe de ferramentas, além das emendas parlamentares, para influenciar a articulação política.
A forte adesão de aliados ao pedido de urgência, protocolado pelo líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), com 262 assinaturas, acendeu o alerta no Palácio do Planalto. Surpreendentemente, 61% das assinaturas vieram de parlamentares filiados a partidos da base governista, incluindo aqueles contemplados com cargos de segundo escalão, além dos ministérios.
A estratégia de Gleisi, neste momento, envolve conversas diretas com as lideranças partidárias, buscando sensibilizá-las para a "gravidade jurídica e política" do projeto. Auxiliares da ministra analisam a possibilidade de rever o apoio a indicações em partidos como União Brasil (que teve 40 de seus 59 deputados assinando), PSD (23 assinaturas de sua bancada) e MDB (20 adesões). O PP, com um representante no Ministério do Esporte, registrou 35 das 48 assinaturas de seus deputados, incluindo a do líder, Doutor Luizinho (RJ). O Republicanos, também com um ministério, teve 28 assinaturas.
Segundo relatos, a maior contrariedade do governo recai sobre o União Brasil, especialmente considerando a indicação de um novo nome para o Ministério das Comunicações em meio a esse movimento. A vice-liderança do governo na Câmara, exercida pelo deputado José Nelto (GO), que também assinou o pedido de urgência, é outro ponto de irritação.
Interlocutores de Gleisi afirmam que a ministra tem mantido um diálogo "franco" com líderes e parlamentares e que, a partir de agora, adotará uma postura mais incisiva em relação à postura dos aliados. Apesar de negar que se trate de uma retaliação, o governo espera "coerência" por parte dos partidos e seus representantes.
Parlamentares governistas reconhecem as dificuldades do Executivo em aprovar matérias no Congresso, mas defendem a necessidade de impor limites às atitudes de deputados e senadores que contrariam os interesses do governo.
Enquanto o governo articula a retirada de assinaturas do pedido de urgência, o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), busca convencer os signatários a formalizarem a exclusão de seus nomes. Embora essa medida não tenha validade regimental, governistas esperam que ela pressione o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), a não pautar o projeto no plenário. A batalha nos bastidores do Congresso se intensifica, com o governo Lula buscando conter o avanço da proposta de anistia e reafirmar sua liderança sobre a base aliada.